
A solidão é um sentimento subjetivo no qual a pessoa sente uma profunda sensação de vazio e de estar isolado, que pode manifestar-se por sentimentos de abandono, rejeição, depressão, falta de segurança, ansiedade, falta de esperança, inutilidade e falta de significado. Se estes sintomas forem prolongados no tempo, podem afetar a qualidade de vida da pessoa.
Existem 2 tipos de solidão:
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Solidão social: sentimento de ter menos contacto ou interações com família, amigos e colegas do que o desejado.
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Solidão emocional: ausência de alguém em quem confiar ou a quem recorrer em momentos de necessidade.
Estar sozinho não significa solidão!
Estar sozinho significa não ter ninguém fisicamente por perto, no entanto, sentir-se sozinho ou sentir solidão pode acontecer mesmo na presença de outras pessoas, especialmente quando se sente que não é ouvido, compreendido ou aceite tal como é.
Isolamento social e solidão não são a mesma coisa
O isolamento social refere-se à falta de contato social ou familiar com ausência de envolvimento na comunidade, como ocorreu durante a pandemia e que afeta quem vive sozinho em locais muito distantes e pouco acessíveis. Quem vive em isolamento social pode sentir solidão, mas esta condição não é, por si só, uma condição necessária de isolamento social.
Fatores de risco para isolamento social e solidão:
- Pobreza ou dificuldades financeiras: impedem a realização de atividades de convívio e lazer
- Institucionalização: entrada de pessoas idosas em instituições pode dificultar ou diminuir a sua interação social
- Diminuição do estado de saúde: a presença de doença mental grave (por exemplo a depressão), doença crónica, diminuição da mobilidade e outras incapacidades facilitam o isolamento social
- Ausência de cônjuge, familiares, amigos ou colegas: tem risco acrescido de isolamento
- Dificuldade de acessibilidade: quando o local onde se reside é de difícil acesso
- Acontecimentos de vida negativos: falecimento do cônjuge, mudança de casa, desemprego ou trabalho a partir de casa
- Violência: pessoas que sofrem maus tratos têm maior risco de isolamento
- Características específicas no local de trabalho: podem aumentar o risco de isolamento
Condições que reduzem a solidão e o isolamento social
A convivência familiar harmoniosa, a boa saúde mental e a autonomia física são fatores que reduzem o risco de solidão, além disso, estar numa relação estável, ter maior escolaridade, uma condição económica favorável e um bom apoio social são elementos que ajudam a preveni-la.
Solidão e saúde mental
A solidão não é necessariamente um fator de risco para a saúde mental, mas estes dois estados têm uma relação bidirecional.
Por um lado, uma pessoa que sofre de problemas de saúde mental pode estar mais exposta à solidão, como por exemplo na fobia social (ou ansiedade social) que pode ser mais difícil a participação em atividades que envolvam outras pessoas e sentir-se só.
Por outro lado, quando a solidão é prolongada pode ter um impacto significativo na saúde mental e constituir um fator de risco para a diminuição da autoestima, ansiedade, depressão, stress, problemas do sono, abuso de substâncias, demência, ideação suicida e suicídio.
Os efeitos da solidão na saúde
A maioria das pessoas sente, em algum momento, solidão, o que pode ter impactos negativos na saúde física, como:
- Aumento do risco de depressão
- Elevação dos níveis de ansiedade e stress
- Baixa autoestima
- Aceleração da perda de memória e função cerebral
- Comportamentos autodestrutivos
- Apatia e falta de motivação
- Aumento da pressão arterial e maior risco de doenças cardiovasculares
- Maior vulnerabilidade a infeções e inflamações
- Insónia ou sono de má qualidade
- Maior risco de obesidade e diabetes tipo 2
- Aumento do consumo de tabaco
Como combater a solidão e o isolamento
Apesar de a solidão ser um sentimento que parece não ter resolução, é possível encontrar estratégias para ultrapassar a solidão:
- Reconhecer as emoções e sentimentos é o primeiro passo para utilizar as estratégias que diminuem o sofrimento provocado pela solidão
- Realizar contatos e falar com pessoas de quem gosta e em quem confia, através do telefone ou outros meios, é uma das melhores formas de reduzir a solidão
- Frequentar atividades de grupo, por exemplo, inscrever-se num curso, clube ou aula de uma atividade do seu interesse
- Frequentar locais públicos facilita a interação com outras pessoas e traz melhor disposição
- Fazer voluntariado, mesmo que seja uma pequena atividade como doar comida para animais ou pessoas
- Investir nas relações sociais, por exemplo, organizar almoços e jantares com familiares, amigos ou colegas
- Adotar um animal de estimação, que é uma companhia, apoio e amor incondicional, pode ajudar a desenvolver empatia e responsabilidade
- Fazer exercício, mesmo que uma pequena caminhada diária, traz benefícios para a saúde mental
- Falar com alguém quando sentir-se sozinho!
Tratamento
O tratamento da solidão depende das suas causas e do impacto na vida da pessoa. Pode incluir:
- Psicoterapia
Ajuda a compreender os pensamentos e comportamentos, promovendo mudanças nos padrões negativos e o aumento da motivação. - Ajuda médica
Em casos mais graves, pode ser necessária medicação para controlar sintomas de ansiedade ou depressão. - Mudanças no estilo de vida
Apoio para desenvolver estratégias que ajudem a superar a solidão e a fortalecer as relações sociais.
Não é a única pessoa a sentir-se assim e não está sozinho!
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Dra. Liliana Ferreira
A Dra. Liliana Ferreira é médica psiquiatra na Unisana Hospitais – Hospital do Oeste Soerad. Com uma formação diversificada e experiência em psiquiatria geral e comunitária, dedica-se ao tratamento de perturbações do espectro afetivo e dependências. Além disso, tem experiência em intervenções na área da psicose e cuidados de saúde mental comunitários.